Thursday, February 11, 2010

Nota sobre Rudolph Laban (Por Isabel Marques)

Varaljai Vereknyei Esliget Falyi Laban Rezso Keresztelo Szent Janos Attila, ou simplesmente Rudolf Laban, como mais tarde ficou mundialmente conhecido, começou seu trabalho de pesquisa e criação em dança na Europa, no início do século XX. Seu carisma, senso de humor, dedicação e entusiasmo, aliados à sua intuição, avidez intelectual e poder de observação, fizeram dele não somente um grande ‘mestre’ da dança, mas também uma pessoa muito querida e admirada por seus contemporâneos.

Os estudos e as propostas de Laban trazem consigo as marcas de sua época, o modo de pensar e de agir da modernidade européia. Hoje, cem anos depois, é preciso não só conhecer seus estudos - pelo valor inestimável que têm para a pesquisa e criação em dança - mas é preciso que seja revisto sob a ótica da contemporaneidade, não somente para compreendê-lo em seu contexto sócio-político-cultural, mas principalmente para que o legado de Laban possa ser inserido de forma não-ingênua no contexto artístico e educacional brasileiro. O estudo aprofundado e minucioso sobre o movimento humano empreendido por Laban tem até hoje oferecido contribuições muito importantes para as áreas de dança, teatro, psicologia, antropologia, sociologia e saúde - para citar algumas. Foram, talvez, suas contribuições para a área de educação as mais reconhecidas e amplamente difundidas em várias partes do mundo e principalmente no Brasil.

No entanto, é preciso lembrar: acima do professor intuitivo, dedicado e observador havia primordialmente um artista, preocupado com as questões de sua época, com a expressividade do ser humano e com a espiritualidade da arte. Laban, portanto, antes de buscar dialogar com educadores e com a escola, dialogou desde sempre com artistas e com o público, dedicando-se incansavelmente a estudar a arte do movimento - sem finalidades explicitamente escolares.

No Brasil, Laban, o artista, também chega às prateleiras antes do educador. Em 1978, o livro “Domínio do Movimento”, publicado pela primeira vez em 1950, é traduzido e publicado em português. Somente em 1990, com 42 anos de atraso em relação à Inglaterra, o público brasileiro pode conhecer o educador Laban, com a publicação de “Dança Educativa Moderna”.

Tanto para o campo da arte como para o campo da educação, as contribuições de Laban são inestimáveis, pois foi capaz de sistematizar os elementos que compõem a dança. Laban olhou para os “alicerces” de qualquer dança; olhou para os elementos estruturadores das mais diferentes manifestações de dança. Para ele, toda dança tem uma lógica, uma ordem oculta que pode ser desvelada, revelada, visualizada. Chamou esse estudo da lógica da dança de Coreologia.

Em seu extenso estudo, sugere que as diversas danças que existem trabalham sempre com algum – ou com uma combinação – de componentes que abordam o corpo dançante em diálogo com o espaço a partir determinada dinâmica (qualidade, intencionalidade de movimento).

O que diferencia os diversos estilos e gêneros, os diferentes coreógrafos, os inúmeros repertórios de dança são justamente os “recortes”, as escolhas, as composições que cada um deles faz desse imenso universo dos elementos da linguagem da dança decodificado por Laban. Em sala de aula, os estudos de Laban contribuem sobremaneira para estruturar o fazer artístico (exercícios técnicos, de improvisação ou composição) que se relacionam aos jogos de apreciação e de contextualização da arte.

Acima de tudo, por meio dos estudos de Laban, ou da Coreologia, é possível travarmos diálogos significativos entre a arte da dança e os processos da educação. Artista e Educador voltam a se encontrar e a ampliar o universo tanto da Arte quanto da Educação.

Isabel Marques é diretora do Instituto Caleidos.

Referências:
Marques, I. (1999). Ensino de Dança Hoje. SP: Cortez.
Marques, I. (2003). Dançando na Escola. SP: Cortez.

Friday, February 5, 2010

Parceria GLD e Grupo Dicotomia de Dança Contemporânea

"A dança pensa. Não é MEU corpo. É EU corpo."
(Rudolph Laban)
No intuito de difundir a cultura nas comunidades do Jardim Aeroporto/SP, os integrantes do Projeto GodLuv&Dance e o Grupo Dicotomia de Dança Contemporânea consolidaram a viabilização do Projeto Eu Corpo. Este é fruto de pesquisa e trabalho desenvolvido pelo Grupo Dicotomia, coletivo composto por jovens agentes sociais e dançarinos de dança contemporânea que atua desde 2006 com a população de comunidades de baixa renda no município de São Paulo e fora deste. O projeto incentiva a auto-organização para promoção da cultura, educação, saúde e cidadania de jovens de baixa renda, carentes de recursos, mas ricos em repertório cultural, força de vontade e idéias.

O Projeto Eu Corpo, nascido no início de 2008 atua em comunidades carentes do Jardim Aeroporto comprometendo-se a indicar caminhos, a esclarecer aspectos e procedimentos que potencializam a relação harmônica entre o indivíduo e o espaço em que ele vive, seja no espaço exterior, sejam nos limites do seu próprio corpo.

Respeito e convivência formam a base para estruturação deste projeto. Além disso, a ação cultural dos agentes locais, a relação dos espaços de circulação e permanência e a relação com seu próprio corpo possibilitam a continuidade da proposta de ação cultural com a produção do espetáculo musical “O Habitante de Lá”, valorizando a democracia pela transformação cultural.

Para tal o projeto promoverá até o final e 2010 oficinas de dança, fotografia, vídeo e web design; visitas as casas dos jovens; passeios e mostras culturais na comunidade local; a produção de DVD e vídeos, bem como a divulgação das ações propostas pelo projeto por cada um dos jovens envolvidos nas oficinas, através de perfis no Orkut, Facebook, Blogs e plataformas na internet.

O projeto tem como objetivo a promoção da transformação sócio-cultural de jovens de 14 a 29 anos por meio da arte-educação/cultural, de modo que a desenvolver no indivíduo sua identidade própria e corpo-criativo, respaldado em princípios sociais de cidadania e cultura, e nas teorias de Rudolph Von Laban, baseando-se no paradigma de que o movimento humano é sempre constituído dos mesmos elementos, tanto na arte e no trabalho como na vida cotidiana.

O incentivo à cultura e à troca entre as manifestações artísticas propostas pelo projeto através de oficinas teóricas e práticas, objetivam o estímulo das habilidades dos jovens envolvidos bem como a construção de alternativas para um desenvolvimento pessoal e coletivo.

O trabalho, que será realizado através do corpo, implicará na auto-reflexão dos jovens quanto aos seus valores pessoais e sociais, propiciando a formação de agentes transformadores em suas respectivas comunidades, alterando assim, o quadro real de criminalidade juvenil na região do Jardim Aeroporto.

Coordenadoras: Danielle Greco e Jaqueline Laferr