“O corpo-dança pensa age. Ele não é meu corpo, ele é
eu corpo.” Danielle Greco
“As atividades
do espaço são o fazer e o dançar.”
Rudolph
Laban
(MIRANDA,
2008, pg. 7)
Isso é um
manifesto, escrito pelo corpo, corpo este que não mais suporta viver de
editais. Um corpo poético e não burocrático. Um corpo que age da forma que ele
sabe agir, conforme sua história, conforme seus aprendizados, de acordo com o
seu passado-presente (simples não?). Ele então pode se valer de estruturas
modernas, retrógradas, ou mesmo de citações que estão fora de época, mas é o
corpo, ele mesmo, nele mesmo, por ele mesmo. Simples para quem lê, porém
complexo para quem realmente vive.
Tenho voz,
sentidos, estados. Há 1 mês estou parado, no último semestre trabalhei tanto
que não tive tempo de cuidar de mim mesmo. Trabalhei sem ganhar nada, corri
atrás de oportunidades, sucumbi a escrita de pelo menos dez editais, não entrei
em nenhum. Mesmo com um vasto currículo e experiência em dança, teatro,
arte-educação e produção cultural, meus esforços foram inúteis; e foi a partir
desse momento de hiato criativo, de ser obrigado a parar, que me coloquei em
estado de reflexão.
Sou corpo rua,
corpo casa que transborda para o outro. Corpo que segue em atravessamento.
Corpo ainda jovem com relação a alguns conceitos, porém ancião de inquietações.
Corpo, que mesmo caminhando há um bom tempo, não é re-conhecido no ambiente em
que insere ou que pretende se inserir. Parece não haver espaço. Assim como a
cidade. Não há mais espaço. O corpo não habita mais a cidade, pois não há
espaço. Foi retirado o corpo do espaço e o espaço do corpo. Cada vez mais a
dança é retirada dos corpos, e os corpos da dança. E eles afrouxam para outros.
O corpo não
suporta mais sua casa, não lhe cabe, mas a rua também não recebe sua voz. Este
corpo, então, perde força e se cala frente a alguns corpos em ascensão, que por
vezes habitam o mesmo espaço. O sentido de habitar é o mesmo que o de conviver
em um mesmo espaço?
Procuro a rua,
procuro a multidão, procuro a alteridade, procuro o convívio, o diálogo das
inquietações, ações que possam de fato construir novos caminhos para a
sobrevivência dos corpos na dança e em outras linguagens artísticas, todas em
co-labor-ação. Ações que transbordem para outras esferas, onde a dança e as
artes possam ser construídas de outras maneiras, a não ser somente pela lógica
e pela burocratização de processos criativos, colocando-os em casas sem portas,
sem janelas, sem cavidades. O corpo precisa respirar, trocar, ser
corpoambiente.
Estados de
reflexão do mês de julho: um corpo anêmico e inativo não soluciona os problemas
de uma linguagem artística, mas são esses estados de passagem que nos convocam
a refletir sobre a atual situação daqueles que estão ainda nascendo e
construindo a contemporaneidade.
Se hoje tratamos
o corpo como pensamento/ação, digo que sou um corpo-ação-político. Um corpo que
não se contenta em apenas dialogar sobre novas formas de colaboração na
contemporaneidade. Precisamos agir. Precisamos tomar as ruas. Precisamos ser
corpo-ação, dança-ação, arte-ação. O corpo precisa ser palavramento, colocar a
tal da palavra em movimento.
Frente a essa
situação, o corpo político daqui convida o corpo político daí para sair dessa
inércia e participar do nosso primeiro encontro do grupo de estudos do Projeto
estadosDEpassagem. Porque tem sido necessário conviver com inquietações,
respostas, ações, com construções colaborativas, com dança, teatro,
performance, música, artes plásticas, artes visuais e qualquer outra forma de
arte possível. Não queremos fazer grandes travessias sozinhos? Queremos? Não
queremos que nossa arte seja colocada em caixas, embaladas, etiquetadas e vendida
para um ótimo comprador. Queremos? Podemos ser corpos nômades, corpos
itinerantes, corpos casas, corpo ambiente, corpo pensamento, corpo ação,
podemos ser corpo sistema.
O manifesto está
lançado, só falta agora a manifest-ação.
Por Danielle
Greco: vulgo turismóloga, dançarina, atriz, arte-educadora e mais outras mil
funções, e ainda assim, formanda no Grupo de Risco do curso de Comunicação das
Artes do Corpo da PUC/SP.
Sobre o projeto:
www.estadosdepassagem.com
Participe do
grupo de estudos acessando o link do evento no Facebook: https://www.facebook.com/events/1405219273023073/
Bibliografia
MIRANDA, Regina. Corpo-Espaço: aspectos de uma
geofilosofia do corpo em movimento. Rio de Janeiro: 7Letras, 2008.
Mudar ações cotidianas passa a ser uma inevitável procura humana, também fica evidente que para tais evoluções, se faz necessário a recuperação dos gestos e não das palavras, assim como da experiência do corpo e suas sensações frente aos acontecimentos.
ReplyDeletePodemos compreender o corpo como pedaço de vida que une e conecta toda relação com o conhecimento (algo novo) em uma experiência imediata física, gerando uma perplexidade que instantaneamente expressa um movimento, para depois traduzi-lo em linguagem verbal.
A teoria que é prática e a prática que é teoria. Linguagem do corpo!
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